O homem deve escolher em todos os domínios, não entre a segurança e o risco, mas sim entre um risco aberto, fecundo, carregado de promessas, e um risco estéril, sem compensações nem saída. Na verdade, porque não temos neste mundo nível estável, a recusa de subir aumenta as probabilidades de cair. Ao risco fecundo da vida e do amor, a falsa prudência substitui por toda a parte o risco estéril do egoísmo e da morte.
A falsa prudência e o culto do risco aparecem, em profundidade, como dois ramos divergentes, saídos do mesmo tronco. Não só sucedem, mas coexistem nas mesmas almas, fazem parte do mesmo estado de espírito. Sempre os que se recusam aos riscos saudáveis e necessários, são a presa mais certa dos riscos vãos e doentios; e os que procuram o risco extraordinário, o risco do luxo, são os que mais desarmados se revelam e os mais covardes em face dos riscos normais da vida.
Dilema inevitável: porque imagem da divindade, o homem foi feito, ou para subir até Deus, ou para macaquear a Deus. Se não quiser ser a sua imagem, como filho, será o seu símio, a sua caricatura.
O falso sábio e o falso herói estão ambos emparedados no fingimento caricatural que fazem da Divindade. O primeiro repele o risco, por não crer que o todo do homem reside fora do homem, sem compreender que vale a pena perder-se, para se aperfeiçoar. Macaqueia aquele que, em si mesmo, é tudo, quando recusa ser tudo o qeu, com sua graça deve ser. Mas o segundo, correndo riscos gratuitos e sem objeto, procede igualmente como se nada existisse fora de si. Está sedento de uma evasão indefinida, mas vive cativo da sua embriaguez e dos seus caprichos. Perde-se, mas não para lá do estremecimento da própria alma e da própria carne, o que equivale a dizer que se perde sem nada dar. Em vez de oferecer a alma a um ser amado, "tenta-a", como diz Rimbaud, até à morte, no esforço absurdo de extrair dela um absoluto impossível. No jogo do nada, arrisca tudo, porque inconscientemente se julga Deus e cuida poder criar para sim um mundo novo, em troca do mundo perdido. É assim que ele mente ao ser do homem, ou seja a esta pobre natureza tão limitada e tão relativa, suspensa de fins que não criou e que não tem o direito de perder arbitrariamente.
Em nenhum caso o risco deve ser indeterminado, por isso mesmo que em nenhum caso o risco é criador. Se o navio se arrisca ao naufrágio, é sempre em função do porto, já virtualmente atingido pelo pensamento e pelo desejo. O porto já existe. Não é o navio que o cria, quando se expõe ao risco de naufragar. Sempre e em toda a parte, na ordem da natureza, como na ordem da graça, o risco e a segurança correspondem-se.
Fonte: "A escada de Jacob" - Editorial Aster - Colleção Éfeso
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A falsa prudência e o culto do risco aparecem, em profundidade, como dois ramos divergentes, saídos do mesmo tronco. Não só sucedem, mas coexistem nas mesmas almas, fazem parte do mesmo estado de espírito. Sempre os que se recusam aos riscos saudáveis e necessários, são a presa mais certa dos riscos vãos e doentios; e os que procuram o risco extraordinário, o risco do luxo, são os que mais desarmados se revelam e os mais covardes em face dos riscos normais da vida.
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Dilema inevitável: porque imagem da divindade, o homem foi feito, ou para subir até Deus, ou para macaquear a Deus. Se não quiser ser a sua imagem, como filho, será o seu símio, a sua caricatura.
O falso sábio e o falso herói estão ambos emparedados no fingimento caricatural que fazem da Divindade. O primeiro repele o risco, por não crer que o todo do homem reside fora do homem, sem compreender que vale a pena perder-se, para se aperfeiçoar. Macaqueia aquele que, em si mesmo, é tudo, quando recusa ser tudo o qeu, com sua graça deve ser. Mas o segundo, correndo riscos gratuitos e sem objeto, procede igualmente como se nada existisse fora de si. Está sedento de uma evasão indefinida, mas vive cativo da sua embriaguez e dos seus caprichos. Perde-se, mas não para lá do estremecimento da própria alma e da própria carne, o que equivale a dizer que se perde sem nada dar. Em vez de oferecer a alma a um ser amado, "tenta-a", como diz Rimbaud, até à morte, no esforço absurdo de extrair dela um absoluto impossível. No jogo do nada, arrisca tudo, porque inconscientemente se julga Deus e cuida poder criar para sim um mundo novo, em troca do mundo perdido. É assim que ele mente ao ser do homem, ou seja a esta pobre natureza tão limitada e tão relativa, suspensa de fins que não criou e que não tem o direito de perder arbitrariamente.
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Em nenhum caso o risco deve ser indeterminado, por isso mesmo que em nenhum caso o risco é criador. Se o navio se arrisca ao naufrágio, é sempre em função do porto, já virtualmente atingido pelo pensamento e pelo desejo. O porto já existe. Não é o navio que o cria, quando se expõe ao risco de naufragar. Sempre e em toda a parte, na ordem da natureza, como na ordem da graça, o risco e a segurança correspondem-se.
Fonte: "A escada de Jacob" - Editorial Aster - Colleção Éfeso