Quanto mais um homem se torna um deus para si, mais necessidade tem de uma plenitude imediata, actual (de um "acto puro"); e quanto menos sabe esperar, menos ele acredita nas possibilidades e nos sonhos. Confunde sonho com nada; um bem que não apareça de maneira brutal, afigura-se-lhe irreal. É-lhe necessário gozar actualmente de tudo, ou se consente em possuir algumas reservas, é necessário que estas sejam facilmente mobilizáveis, actualizáveis (a reserva dinheiro enche maravilhosamente esta condição e nisso reside a sua situação de favor).
Querendo imitar deste modo a actualidade absoluta de Deus, declina necessariamente para o que há de mais pobre, de mais material em si e no mundo, porque aí está precisamente aquilo que mais facilmente se pode "despertar", controlar e utilizar. E escapam-lhe os bens mais verdadeiros e os mais profundos, porque são os menos aparentes, os menos manejáveis, e os que exigem um maior número de actos de esperança e de fé: Deus faz-nos pedir que venha o seu reino!
Esta necessidade mórbida duma "actualidade" divina contribui para que os espíritos e as almas modernas se fechem à noção e ao sentimento do sobrenatural: a graça, envolvida e aniquilada neste mundo pela natureza, é a coisa mais secreta, mais germinal que porventura existe, a que menos rende, a que menos "paga"na aparência: aquilo que no homem dorme mais profundamente, é Deus. É tão raro encontra num homem um Deus vigilante... Só os santos trazem ao mundo a presença actual e visível de Deus. Fora do clima de santidade, acreditar no sobrenatural, acreditar na graça, é acreditar no adormecimento de Deus nos homens.
Todas as coisas criadas são intermediários, sinais, aparências. Mas algumas, dentre elas, são intermediários em segundo grau, sinas de sinais, aparências de aparências. Assim sucede com o dinheiro, as honrarias, os títulos, os prazeres artificiais, etc. E são precisamente estes fantasmas o objeto preferido da idolatria moderna, são estes bens ultra-relativos os que mais captam o nosso desejo de absoluto. Já se não adora o sol, as plantas ou os animais (que pelo menos têm o mérito de serem intermediários necessários entre o homem e o seu fim supremo), mas sim uma etiqueta política, uma condecoração, uma nota de papel.
Como o culto antigo de Cybelis, o de Cypris, ou mesmo o de Príape, que correspondiam às profundas realidades naturais, se revelam sãos e vivos em comparação com o culto actual dos mais vãos elementos da nossa existência! A idolatria moderna rege-se pela lei do menor coeficiente de realidade. E ainda quando se abate sobre coisas necessárias e naturais, as despoja da sua realidade, da sua substância, fá-las sobras e joguetes. Assim, a idolatria do amor sexual não adora, na mulher, a esposa ou a mãe tal como Deus a quis; substitui-a, segundo incida sobre o corpo ou sobre a alma, quer por um instrumento de prazer estéril, isto é, um ser degradado, quer por um produto de sonhos impossíveis, isto é, um ser imaginário. A idolatria antiga (pelo menos na sua fase inicial) elevava para Deus as coisas da natureza, enquanto que a idolatria moderna as degrada até ao nada.
Fonte: "O pão de cada dia" - Editorial Aster - Colecção Éfeso
Querendo imitar deste modo a actualidade absoluta de Deus, declina necessariamente para o que há de mais pobre, de mais material em si e no mundo, porque aí está precisamente aquilo que mais facilmente se pode "despertar", controlar e utilizar. E escapam-lhe os bens mais verdadeiros e os mais profundos, porque são os menos aparentes, os menos manejáveis, e os que exigem um maior número de actos de esperança e de fé: Deus faz-nos pedir que venha o seu reino!
Esta necessidade mórbida duma "actualidade" divina contribui para que os espíritos e as almas modernas se fechem à noção e ao sentimento do sobrenatural: a graça, envolvida e aniquilada neste mundo pela natureza, é a coisa mais secreta, mais germinal que porventura existe, a que menos rende, a que menos "paga"na aparência: aquilo que no homem dorme mais profundamente, é Deus. É tão raro encontra num homem um Deus vigilante... Só os santos trazem ao mundo a presença actual e visível de Deus. Fora do clima de santidade, acreditar no sobrenatural, acreditar na graça, é acreditar no adormecimento de Deus nos homens.
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Todas as coisas criadas são intermediários, sinais, aparências. Mas algumas, dentre elas, são intermediários em segundo grau, sinas de sinais, aparências de aparências. Assim sucede com o dinheiro, as honrarias, os títulos, os prazeres artificiais, etc. E são precisamente estes fantasmas o objeto preferido da idolatria moderna, são estes bens ultra-relativos os que mais captam o nosso desejo de absoluto. Já se não adora o sol, as plantas ou os animais (que pelo menos têm o mérito de serem intermediários necessários entre o homem e o seu fim supremo), mas sim uma etiqueta política, uma condecoração, uma nota de papel.
Como o culto antigo de Cybelis, o de Cypris, ou mesmo o de Príape, que correspondiam às profundas realidades naturais, se revelam sãos e vivos em comparação com o culto actual dos mais vãos elementos da nossa existência! A idolatria moderna rege-se pela lei do menor coeficiente de realidade. E ainda quando se abate sobre coisas necessárias e naturais, as despoja da sua realidade, da sua substância, fá-las sobras e joguetes. Assim, a idolatria do amor sexual não adora, na mulher, a esposa ou a mãe tal como Deus a quis; substitui-a, segundo incida sobre o corpo ou sobre a alma, quer por um instrumento de prazer estéril, isto é, um ser degradado, quer por um produto de sonhos impossíveis, isto é, um ser imaginário. A idolatria antiga (pelo menos na sua fase inicial) elevava para Deus as coisas da natureza, enquanto que a idolatria moderna as degrada até ao nada.
Fonte: "O pão de cada dia" - Editorial Aster - Colecção Éfeso