domingo, 23 de maio de 2010

Idolatria moderna

Reparai nesses homens. Ou são lisos como os passeios ou, se têm alguma profundidade, prostituem-na. A tragédia não está tanto em que esses homens se deitem com os seus ídolos, mas em que estes ocupem neles o lugar que Deus deveria ocupar. A idolatria antiga era grosseira e benigna: desabrochava no interior de uma natureza demasiado rica e demasiado embriagada de si mesma, limitava-se a atingir o humano no homem. Porém a idolatria moderna atinge, por assim dizer, o sobre-humano, o divino no homem; usurpa os mais sagrados nomes da fraqueza e da loucura divina. É nessa última extremidade em que a natureza se torna mais sensível ao pressentir a graça, nessa porta sete vezes interior por detrás da qual o Senhor espera, que hoje o ídolo se diverte! O ídolo antigo roubava a Deus a plenitude e a segurança da alma humana; o ídolo moderno arrebata-lhe essa fraqueza, essa insuficiência de criança que o leva a suspirar por um pai desconhecido---tudo o que é nela naturalmente cristão...

Ó Deus assim escarnecido, traído em profundidade com tanto refinamento, acuidade e precisão, Deus esposo sempre vigilante desta humanidade sempre adúltera, tudo o que me resta de piedade no coração se eleva para ti!

Fonte: "O pão de cada dia" - Editorial Aster - Colecção Éfeso