domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aforismos

Amor e santidade

Que é o amor para a maioria dos homens? Uma máscara de dias de festa, uma espécie de efervescência do egoísmo acumulado, que torna a cair, mal a dura necessidade traz o eu à consciência de si mesmo (doença, miséria, etc.), um luxo, numa palavra. Pelo contrário, os santos amam como respiram, não podem amar-se sem amar, o seu amor não é um luxo mas uma necessidade. O amor, para a média dos homens, é a flor do egoísmo, para o santo é a sua raiz. Aquilo que, em Deus, é a substância mais profunda tornou-se, no homem, o mais superficial e o mais frágil acidente. E o grau de esgotamento da seiva divina num homem mede-se pela tendência desse homem a não encontrar já no amor uma necessidade, um fundamento (L'amor che muove il sol e l'altre stelle...), mas um simples acessório decorativo; por outras palavras, segundo o número e a complexidade das condições que nele o amor exige para se realizar...

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"O amor não tem qualquer relação com a força" (Platão, Fédon). Mas este amor, sem relação alguma com a força orgulhosa e dominadora, também não tem relação com a fraqueza cheia de inveja e de ressentimento. O amor é fraqueza, mas fraqueza nua, fraqueza que não procura vias tortuosas (apelo à piedade, criação de ideias falsos) para pôr em cheque a força e suplantá-la no seu próprio terreno. É, exclusivamente, neste sentido muito puro, que é permitido dizer-se ser "a fraqueza de Deus mais forte que os homens".

Fonte: "O pão de cada dia" - Editorial Aster - Colleção Éfeso